Marinada, Woody Allen, feminismo e bolinho de maconha

Publicado em: 2 nov 2016

Marinada, Woody Allen, feminismo e bolinho de maconhaEu só queria escrever um parágrafo sobre marinadas porém, como sempre acontece comigo, comecei a ler sobre o assunto e encontrei várias histórias curiosas.

A palavra marinada vem do latim Marinus, que quer dizer marinho. É uma das técnicas de cozinha mais antigas da história da alimentação. Existem registros desde as pré-civilizações. Há 5000 anos o método era utilizado para preservação de alimentos. Quando repousada em uma mistura ácida, aromática e geralmente salgada, a carne passa por uma série de ações químicas que aprimoram o seu sabor e textura.

Um cientista na CozinhaSe quiser uma explicação mais técnica, vale consultar o livro Um cientista na Cozinha, onde o autor Hervé This explica que “é o fenômeno que resulta da difusão das moléculas. Um sistema composto de vários tipos de moléculas está em equilíbrio quando a concentração de cada tipo de molécula é idêntica em todas as partes do sistema. Se dispusermos um cristal de sal na superfície de uma célula, as moléculas de água saem da célula para que sua concentração seja igual na célula e no cristal de sal”.

Eu prefiro a definição que encontrei no Livro de cozinha de Alice B. Toklas, (Cia das Letras). A autora diz que “uma marinada é um banho em vinho, ervas, azeite, verduras, vinagre etc., no qual o peixe ou a carne destinados a pratos específicos repousam por um período de tempo determinado e adquirem virtude”.

Durante 38 anos, Alice foi companheira da escritora Gertrude Stein, com quem formou um dos mais discretos e respeitados casais do mundo das artes no início do século XX. As duas viveram em Paris, num apartamento localizado na Rue de Fleur, 42, em Montmartre, que até hoje é o reduto dos artistas. Nesse lugar recebiam visitantes ilustres para disputadíssimos jantares preparados por Alice.

Quem lembra do filme Meia-noite em Paris, de Woody Allen? Pois é, o personagem Gil (Owen Wilson) magicamente consegue retornar à Paris dos anos vinte e, na calada da noite, passa a conviver com nomes como Ernest Hemingway, Pablo Picasso, Salvador Dalí, Luis Buñuel, Toulouse-Lautrec, Degas, Gauguin, Cole Porter… Esse era o mundo de Alice e Gertrude.

O Livro de Cozinha de Alice B. Toklas traz receitas que foram servidas para gente do quilate de Pablo Picasso, mas vai muito além. É um saboroso retrato da Belle Époque, cenário onde as duas viveram e ainda ensina o preparo de pratos nada comuns como sopa de louro e, o famoso brownie de maconha. A história do bolinho doidão é engraçada e foi parar no livro quase que sem querer. Um amigo chamado Bryan Gysen enviou a receita de brincadeira. O browie ficou fora da primeira edição do livro mas, na segunda, lançada em 1960, acabou publicada no capítulo Receita de Amigos. Na versão original chama-se Hashish Fudge que, segundo a autora, qualquer pode fazer em um dia chuvoso ou seja, o nosso conhecido bolinho de chuva.

Livro gostoso e interessante que, através da cozinha, nos mostra o estilo de vida da intelectualidade francesa naquela época.

Meia noite em Paris

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Outra homenagem no cinema aconteceu em I Love You, Alice B. Toklas!, protagonizado por Petter Sellers em 1968 e que chegou ao Brasil com o título de O Abilolado Endoidou.

No filme O Abilolado Endoidou: Todo mundo doidão com o bolinho de maconha:

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