Restaurante: Tudo começou com uma sopinha servida na caneca

Publicado em: 29 nov 2016

boulanger_2610650kParis foi o berço desse lugar tão aconchegante que hoje chamamos de restaurante. Tudo começou em 1765, quando um vendedor de sopas chamado Mathurin Rose de Chantoiseau, o Monsieur Boulanger, decidiu incrementar o seu estabelecimento, instalado na Rue Bailleul, nos arredores do Louvre, algumas mesas para que seus clientes tivessem mais conforto para tomar seus caldos restauradores (bouillons restaurants). Até então a única opção era comer em pé os caldos que eram servidos em caneca. Sempre atento às oportunidades e à importância da boa promoção, pendurou na porta de seu restaurante uma placa com a seguinte frase: “vinde a mim, vós que trabalhais, e restaurarei vosso estômago”.

placaE foi assim que, ligado nas tendências do mercado de sua época, Monsieur Boulanger decidiu ampliar o seu negócio e o seu cardápio. Além dos famosos caldos, ele começou a oferecer pratos sólidos, servidos em porções individuais. Um deles era conhecido como pieds de mouton à sauce poulette (pés de ovelha em um molho branco). Em pouco tempo surgiram inúmeros imitadores e o termo “Restaurants”, antes apenas usado para o famoso caldo restaurador, se transformou em nome de um próspero negócio eu sobrevive até hoje.

boulanger-scaled500Porém a história vai mais longe. Além de criar o primeiro restaurante da história, ao vender suas novas criações culinárias na forma de prato, Boularnger conseguiu quebrar o monopólio dos “traiteurs” (os únicos comerciantes autorizados a vender produtos de carne). Mas a novidade lhe rendeu problemas com a concorrência, que passou a acusá-lo, dizendo que seu novo prato a base de coelho, levou a famosa sopa à categoria de ragu. O protesto tinha como base apelar para às regras estabelecidas pelas autoridades da França que, antes da Revolução, exigiam que padeiros, açougueiros, padeiros e demais negócios do ramo, se limitassem a servir em seus estabelecimentos os alimentos de sua categoria original de comércio. Com isso, sobrou para Boulanger tentar convencer os tribunais de que a nova receita não invadia o território de nenhum concorrente. E ele conseguiu!

França em tempos de revolução

Vamos relembrar que, no século XVIII, a realidade era bem diferente do que estamos acostumados nos dias atuais. Poucas pessoas da cidade tinham o costume e as condições necessárias para cozinhar em suas casas. Assim, começaram a surgir tabernas comunitárias, frequentadas pelas classes mais simples que encontravam nesses lugares um serviço que priorizava as bebidas, e alguma comida. Por conta disso, as tabernas não tinham entre seus clientes as mulheres e famílias.

Outraconchas opções para se comer fora eram muito limitadas. Além das tabernas, existiam os serviços de hotéis e pensões que serviam diariamente um menu chamado “table d’hôte” que significa “à mesa do anfitrião”. Entre os contras desse tipo de estabelecimento, destacam-se o alto custo das refeições, o menu fechado que não dava direito à escolha, a política de que hóspedes e visitantes eram obrigados a comer juntos, dividindo mesas e, pra completar, uma política rígida em relação aos horários das refeições.

Existiam as tabernas e os traiteur

s (que em português significa restauração), lugares que serviam apenas pratos populares e, segundo o historiador Jean-Robert Pitte, tinha como cenário “ambientes destinados a um convívio barulhento, muitas vezes licenciosa e ocasionalmente provocadora de brigas”. Por conta disso, não eram ambientes apreciados e indicados para mulheres e famílias.

Les gravures de 1654 de Pierre Daret, reproductions Norbert PousOutro precursor em transformar a atividade de servir refeições em um negócio, foi Antoine Beauvilliers, que incrementou seu negócio com um menu variado, um salão elegante com mesas individuais, garçons treinados, uma adega bem selecionada e uma cozinha refinada. Por conta de todo esse refinamento, a Larousse classifica a sua Grande Taverne de Londres, inaugurada por ele em 1782, como o “primeiro restaurante parisiense digno de usar esse nome”.

Como grande parte das histórias envolvendo a gastronomia, o título de primeiro restaurante do mundo tem duas versões. Pouco importa, o que vale é o prazer de saber como eram as coisas nos séculos passados.