Descobri que Nostradamus foi mestre em fazer doces e geleias!
Nostradamus viveu no século 16 e ficou famoso por suas profecias, frutos da combinação de seus conhecimentos sobre a astrologia com o que chamava de inspiração divina. Em 1550 publicou seu primeiro almanaque com previsões gerais para cada mês do ano. Seu trabalho mais grandioso em relação a profecias chama-se As Centúrias e foi publicado pela primeira vez em 1555. As profecias de Nostradamus falam sobre o futuro da França e do mundo até o ano de 3797, data que ele afirmava ser o tempo em que acontecerá o Apocalipse.
Mas o assunto aqui é outro, porque Nostradamus não limitou seu conhecimento às profecias. Ele foi expert na arte de transformar frutas em geleia e fazia um bolinho de marzipã com pasta de amêndoas açucaradas que tiravam do sério a rainha Catarina de Médici, esposa de Henrique II , que tinha fama de uma insaciável comilona.
Médico, apotecário, alquimista e astrólogo, na intimidade Nostradamus era um gourmand e gostava muito de cozinhar. Antes de publicar suas famosas profecias, ele escreveu em 1552 o livro Traité des Fardements et des Confitures. Para entender direitinho o nome do tal livro, pedi ajuda para Sophie, minha professora de inglês que nasceu em Lyon (isso mesmo, ela é francesa !). “Estranho esse nome, isso é francês antigo. Sobre o que você está lendo agora?”, perguntou ela antes de explicar que, numa tradução livre, seria Tratado de Cosméticos e Doces, ou Tratado de cremes e doces.
Bem, vamos à obra! O livrinho traz receitas organizadas em duas partes, cosméticos (maquiagem, loções e perfumes) e alimentos (doces, geleias e vinincotto, um mosto de uva de cor escura e sabor doce, produzido principalmente na região de Apulia, Itália), contém indicações autobiográficas valiosas.
As receitas de Nostradamus buscavam o equilíbrio perfeito entre o sabor, a longevidade na preservação das compotas, e o encantamento provocado pelo colorido das frutas que, segundo ele, além de satisfazerem o paladar, tinham propriedades terapêuticas
São 32 capítulos com receitas de doces feitos com peras, figos, marmelo, limão, laranja, cereja, amêndoas, nozes, abóbora, flores e até alface. Na abertura do livro o autor explica que foi o primeiro a revelar o que chama de “doces secretos”, confeccionados com um caráter ritualistico e místico. Ele dizia que suas receitas eram dedicadas “às pessoas comuns, às damas ávidas de conhecimento e à todas as classes de pessoas”.
“Se alguém tem a perfeita inteligência de dominar bem e devidamente o açúcar, transformará todos os frutos em perfeitas compotas, mas se não conhece o efeito do açúcar quando está liquido, perderá tudo”, escreveu.
Nostradamus viveu na Idade Média, época na qual as experiências feitas por alquimistas e boticários na cozinha, eram sempre mantidas em segredo. Sua cozinha era um laboratório de alquimia onde se valorizava muito o mel – e também o açúcar – não somente como um liquido portador de sabores, como também um fluido solar. Ele e demais alquimistas da época defendiam a teoria que coloca o doce como o centro do contato dos seres humanos com a natureza.
Ele foi um grande conhecedor da boa comida e elogiava as frutas confitadas na Espanha e Itália, em especial nas cidades de Valença, Génova e Veneza, que eram facilmente encontradas na França.
Em uma temporada de dois anos na Itália, aprofundou seus conhecimentos em alquimia vegetal. Em Milão, conviveu com um boticário especialista no assunto que o introduziu na arte das compotas e geleias curativas.
Entre suas especialidades, estavam também as receitas de torrones e marzipãs. Também se especializou em fazer o açúcar candy, usado especialmente para fins medicinais. Trata-se do açúcar feito através de um processo de cristalização lenta e forçada da sacarose em torno de um fio estendido para formar cristais grandes, constituídos de sacarose pura.
Outra preparação presente no livro é o doce de abóbora, definido por ele como “uma compota refrescante que além de ser delicioso, atenua o calor exuberante de coração e fígado”. Na receita ele alerta que para se obter um bom resultado, a abóbora deve estar bem seca e ensina um processo de vários dias para que isso ocorra. No final, a polpa da abóbora deve ser coberta de açúcar (ou mel), até formar uma crosta branca que vai garantir que o doce fique bem macio por dentro.
As delicias preparadas com rosas aparecem tanto como geleias, como em forma de xarope. Algumas delas necessitam de 1.500 flores para ser feita. Ele também alerta que não serve qualquer rosa, elas devem ter um maravilhoso perfume, “como as da Arábia de Ispahán ou do Vale das rosas da Bulgária”.
Outra geleia especial é a feita com cerejas. O doce é descrito como algo “de sabor excelente, transparência clara e brilho vermelho, como o de um fino rubi, com as cerejas mantidas preservadas por muito tempo”. Ele garante que essa geleia, “de excelência suprema, pode ser oferecida a um rei.”
Filosofando sobre suas compotas, Nostradamus explicou:
“Se você quer que sua compota tenha toda a essência alquímica da rosa, precisa colhe-las pela manhã, antes da saída do sol, quando estão peroladas com o orvalho, matéria prima para a busca da Pedra Filosofal ou do ouro potável”.